O
homem não é naturalmente bom nem mau. Transforma-se naquilo que a sociedade faz
dele. A civilização o dotou de uma consciência ética, mas isso não tem valor
absoluto. Dependendo das condições, facilmente o ser humano regride à besta. O
que impede que isso ocorra é a educação.
Não há maldade nos animais, que
matam pela necessidade de sobreviver. O prazer deles está não em matar, mas no
que a morte da presa propicia ao seu estômago. Nisso não há sadismo, que faz da
maldade um gozo e é um sentimento tipicamente humano. Com o homem a seleção
natural ganha uma dimensão inédita, em função da qual o triunfo do mais forte
não leva necessariamente ao aprimoramento da espécie. Pelo contrário, muitas
vezes consagra o que há nela de pior.
A
ética pretende nos tornar bons para os outros. Há milênios a civilização
procura inutilmente fazer com que o homem alcance esse objetivo. Filósofos,
padres, psicólogos e demais especialistas da alma têm tentado convencê-lo de
que o cultivo da bondade traz vantagens para todo o mundo, mas ele não está
muito preocupado com isso.
Fico
me perguntando se o motivo desse fracasso não estaria nos argumentos errados.
Numa sociedade utilitarista como a nossa, em que se endeusa o dinheiro, é
preciso sensibilizar as pessoas mostrando-lhes as vantagens econômicas de ser
bom. A virtude pode ser uma poupança não só para o espírito, mas também para o
bolso. Tudo mudaria se fizéssemos ver que o pecado é dispendioso. Literalmente,
arruína.
Tomemos
como exemplo a inveja. Tendemos a invejar os que têm melhores condições
materiais do que nós. Na ânsia de superá-los, gastamos o que temos e o que não
temos para comprar um carro novo, uma casa na praia, uma granja num desses
condomínios arborizados. “Se o vizinho
tem, por que eu não posso ter?” Vivemos de olho – gordo! – no patrimônio do
vizinho, cuja suposta felicidade nos infelicita. Resultado: em pouco tempo
estamos peregrinando pelos bancos a fim de saldar dívidas que não terão
fim.
Outro
exemplo é a luxúria. As amantes bonitas custam caro! Querem joias, vestidos de
grife, viagens ao exterior. Elas dizem que é para tornar mais romântico o
relacionamento, no entanto romantismo é a última coisa que lhes passa pela
cabeça. E que dizer da gula? Já pensaram quanta caloria monetária o guloso não
investe para alimentar seu vício? No supermercado ele deixa uma pequena
fortuna, que ajuda a enriquecer o dono.
Talvez
o único pecado rentável seja, por razões óbvias, a avareza. Mas essa não vale,
pois o avaro se priva justamente daquilo que é atraente no pecado – o prazer.
Ele se satisfaz com a penúria autoinfligida e deixa a vida passar enquanto
conta os seus reais.
Avaros
à parte, está na hora de mudar o discurso. Devemos ensinar ética não no
catecismo, nos seminários ou nas faculdades de filosofia, mas nos cursos de
economia e contabilidade. Quando todos se convencerem de que o pecado
empobrece, tratarão de enriquecer o espírito para auferir os rendimentos
materiais que isso pode proporcionar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário