domingo, 1 de maio de 2016

Um visitante fiel

“Hospital Albert Einstein libera bichos de estimação para pacientes em São Paulo” (Portal UOL)

         Certa manhã, Casimiro se sentiu mal. O médico da família foi chamado às pressas:
            -- Princípio de AVC. É preciso internar agora.
            -- Ele vai ficar bom? – quis saber Clotilde, apavorada.  
            -- A evolução depende muito dos hábitos de vida do paciente. 
          Casimiro não cometia excessos, mas também não era nenhum estoico. Fazia o que a maioria faz. Uma cervejinha nos fins de semana, vez por outra uma feijoada, doces com alguma moderação. Para não dizer que não fazia exercícios, combatia o sedentarismo caminhando todos os dias com o seu cão, Aladim.
     Colocaram-no numa cama cercada por toda aquela parafernália de soro, ressuscitador, balão de oxigênio. O homem não estava morto, mas não dava sinais de vida. Vivo estava, sem dúvida, mas numa letargia que parecia pressagiar a morte. Clotilde, chorosa, segurava a mão branca e inerte do marido. A família se revezava para que sempre houvesse alguém no quarto.
Passaram-se uns dias, e o doente nada de acordar. Então o filho teve a ideia:
             -- Por que a gente não traz Aladim para visitar ele?
        -- Aladim?! Que loucura, Pedro! -- estranhou a irmã mais nova.  O rapaz ponderou que o doente e o animal eram muito ligados. E desde que Casimiro adoecera, o cachorro andava triste pela casa. Parecia adivinhar a desventura do dono.
        Terminou convencendo o resto da família e se dispôs a trazer o cão. Na tarde seguinte, botou-lhe a coleira e foi com ele ao hospital.  Aladim ficaria em seus braços; não podia correr o risco de que latisse naquele lugar.
Quando entraram no quarto, Clotide e o resto da família fixaram os olhos no animal. Tinham uma curiosidade, entre cômica e aflita, de saber como ele reagiria. Sofreria tanto quanto eles? Ou mais? 
Ao ver o dono, o cão ganiu melancolicamente. Mirou os olhos cerrados do doente e encostou o focinho em sua mão. Foi aí que as pálpebras de Casimiro se mexeram.
               -- Mãe, papai está acordando! – gritou a outra filha. 
               -- Eu vi, eu vi! -- agitou-se Clotilde.  
               -- Foi por causa de Aladim -- completou Pedro, triunfante.         
      Decidiram trazer o cachorro mais vezes. Já não havia dúvida de que, quando Casimiro o via, esboçava algum tipo de reação. Uma tarde, quando o animal cheirava-lhe o braço, o dedo indicador do doente se elevou. Parecia querer acariciá-lo.  
        Casimiro não voltava a si, mas não piorava. Era como se estivesse preso à vida por uma coleira invisível. O hálito do animal em sua pele, testemunho de uma eterna gratidão, parecia acordar nele antigas lembranças. E de alguma forma o ajudava a se manter vivo. 

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